quarta-feira

um bicho novo

Hoje ganhámos mais um animal de companhia.
A minha família ainda não sabe.
Mas depois digo-lhes.

Foi quando fui de carro ao centro comercial aqui perto comer que a vi, pendurada do retrovisor, uma aranha mínima, encolhida e a dançar como noutros carros vejo um terço.
No meu era uma aranha.
Uma minúscula aranha pendurada a baloiçar de um finíssimo fio de teia.

Perguntei-lhe como se chamava e ela respondeu-me pomposamente "Aracnídeo". Assim à laia de não me dar confiança. Fiquei na mesma. Como ela ficaria se eu me apresentasse como hominídeo.
Não achei simpático.
Mas também se compreende, ela estava sossegada a dormir e eu iniciei um percurso estranho em que sem saír do lugar onde estava pendurada, ela viajou a 50 e 60 quilómetros hora, toda a abanar, num trajecto que provavelmente não percebeu e que a devolveu sempre ao mesmo lugar.
Deve ter sido bizarro e ela achou que não devia dar-me confiança. Não fosse eu aquela que leva as almas na barca estranha para o outro lado. Livra!!

Aracnídeo... muito bem... muito me contas...
Olha, eu sou a Sofia, e estou no meu carrito, que parece que agora também é teu... E talvez isso não te diga grande coisa de mim. Nem sequer olhas para a minha cara. Provavelmente não a verias se a visses, e provavelmente se a visses não saberias que é uma cara e para que serve.

Sabes o que eu pareço? Aquele do poste..
"O senhor dá-me lume?"
Eu não bebi... Amanhã começa a minha 24 semana de gestação e tu não imaginas o que é andar 40 semanas com a barriga a crescer para nascer só uma cria que vai precisar de mim para tudo o que possas imaginar.

O aracnídeo, talvez percebesse então que sou fêmea, mas não me disse mais nada.
Ficou a baloiçar brilhante do meu retrovisor e eu lá fui, a sentir-lhe a presença, atenta ao camião á frente e ao mundo ao meu redor.

Deve ser chato uma gestação rápida, de milhares de crias, que entre outas coisas nos podem comer.
Não fui sensível no tema de conversa que escolhi.

O aracnídeo teve razão desde o início. Não me devia ter dado confiança. Muito menos antes de eu tomar o pequeno almoço, que é sempre um periodo do dia em que não estou no meu melhor.
A esta altura anda lá, no volante, ou sei lá onde... a ser aracnídeo. Com menos macacos na cabeça que eu, e com uma percepção do mundo tão ou mais legítima que a minha.
A teia no retrovisor, talvez a fazer um desenho brilhante numa ponte entre o tablier e o retrovisor.
Todas as criaturas tentam fazer algo brilhante.

Eu também queria ser capaz, mas neste momento só queria conseguir ir dormir em paz.

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