terça-feira

O stress, o bico de lacre e os dias


Sou discípula sem o meu mestre saber :-)
Não chego a ser discípula, claro, apenas me inspiram as coisas que aquele homem diz.
Thich Nhat Hanh é um monge budista, vietnamita, que criou em França um retiro chamado Plumvillage e que tem a doçura mais espantosa que alguma vez conheci.

Deixo aqui um cheirinho (sugiro que façam pause enquanto o filme carrega para o verem todo de seguida sem "bechechos"):

Ora o Thich Nhat Hanh fala maravilhosamente da necessidade de nos mantermos no momento presente. Diz-nos que mantermo-nos no momento presente é a única forma de viver, de amar e de estarmos realmente disponíveis para a vida, para nós e para os outros.
Mindfullness é um estado de perfeita atenção e entrega ao que se passa neste preciso momento, que se amplifica com a prática e que nos expande a capacidade de percepção no agora retirando a carga de distração inútil com o que factualmente não existe, por não ser presente.

Mindfullness não é uma forma de meditação na qual nos sentamos a respirar, embora possamos fazê-lo.
É talvez uma forma meditativa de viver, na qual meditamos em tudo o que fazemos, em tudo o que sentimos, e em tudo o que somos, agora.

Mindfull walking, mindfull listening, deep looking, mindfull breathing, são práticas das quais Thich Nhat Hanh fala com uma beleza, uma doçura e uma lógica simples e belíssima que me fazem acreditar num mundo melhor.

Eu, estou aqui, em mudanças sem mudar, sentada numa cadeira, de pijama passa do meio dia. Não posso conduzir, nem carregar pesos. é uma boa altura para praticar o mindfullness do Thich Nhat Hanh em conseguir desligar e ficar simplesmente entretida a sentir-me como me sinto e pronto.

Lembro-me do bico de lacre que trouxemos da loja no outro dia.
O bico de lacre é um passarinho incrívelmente pequeno e frágil, cheio de energia e de vitalidade, mas muito, muito pequenino.
Estava na loja numa gaiola juntamente com canários, mandarins e até um pardal de Java que é 10 vezes o tamanho do bico de lacre.
Entre pássaros mais enervados ou mais calmos, mais agressivos ou passivos, o padrão é que todos estavam a mais naquela gaiola pequena demais para tantos bichos diferentes.
Enquanto uns se picavam e outros se encolhiam, o bico de lacre em pleno stress picava o seu próprio peito minúsculo que sangrava.
A minha filha não aguentou ver aquilo e pediu-me por tudo que o salvasse daquele tormento.
Responsabilizou-se por ele e eu também tive dificuldade em abstrair e trouxemo-lo para casa, onde ficou sossegado, com comida e água, sem ataques e sem liberdade para voar e ser um bico de lacre realmente vivo.
A verdade é que ele não sobreviveria um dia em liberdade. E não sei quantos sobreviveria naquela gaiola de loja.
No momento presente ele tem o peitinho todo compostinho, não se pica, não se stressa. A minha filha está provavelmente na praia com as amigas da avó e eu estou aqui a querer decidir para mim própria que quero ser como o meu mestre.



Estou em mudanças, grávida e com ordens para ficar quieta. E custa-me. Mas não vou picar no meu peito. Vou aceitar a gaiola por agora. Porque agora está tudo bem.

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