quarta-feira

Quarta feira

Cá vou no barco. No barco de existir.
Quando ia no carro... no carro de conduzir, no trajecto permitido entre a minha casa da qual ainda não mudei, para o centro comercial que continua a salvar-me do mais terrível e profundo dos tédios pré-mamã....ai.. o que é que eu estava a dizer?

Ia eu no carro, quando vi que a aranha continua lá. O Aracnídeo. O tal que não me passou cartão quando meti conversa uns tópicos lá em baixo...

Estava menos contido, hoje. Mais participativo. Já se deve estar a habituar ao "para cá e para lá" do carro, pendurado do retrovisor por uma teia fininha e brilhante à qual ele deu o surpreendente nome de "teia".
Giro, que estes bichos se atenham tanto ao que É.

Partilhei com o Aracnídeo que estava com imenso sono e que não estava a sentir-me propriamente em extase místico... havia um não sei quê de lugar errado na hora errada.
E ri-me porque ele respondeu-me:
"O quê?? E tu já olhaste bem para mim? Pendurado em 10 cm de teia a abanar?? Tu achas mesmo que foi para isto que a natureza se fez em mim??"

Estava todo encolhido. Bem agarradinho... ensonado também.

Para mim tem sido verdade que quanto mais tento perceber qual é o meu lugar na criação, menos me consigo ver. Fico desfocada, como uma má fotografia.
Quando aceito as condições contratuais na cláusula dificil de cumprir:

" o segundo outorgante (eu) aceita que vai viver uma vida que se conta a si mesma, e guardar sempre uma área significativa em si para se deixar surpreender pelo resultado."

E eu assinei aquilo!!!

Ora estava eu a ouvir um livrito chamado In praise of stay-at-home-moms escrito por uma senhora "acalorada das ideias", a Dra Laura Schlessinger; e dei comigo em mais um desses momentos de estupfacção...

Como é que da primeira outorgância do meu contrato de vida, vem esta ideia de me fazerem crescer e ser criada por veneradores oficiais e convictos da carreira e da segurança que a carreira dá, e de trabalhar, e de ir para o trabalho e de tudo isso... que a mim nunca me disse nada... o que é culturalmente vergonhoso eu dizer, porque nasci em 74... porque se eu tivesse nascido em 1852 isso faria de mim a mais trivial das boas mulheres....

Mas como é que a primeira outorgância me coloca então no colo de uma família de convictos seguidores da religião da carreira e do progresso profissional... para depois, me fazer ouvir aos meus 35 anos, uma senhora chamada Laura dizer:

- Uma casa perfeita, não é uma casa perfeitamente limpa e arrumada. Ninguém se sente confortável numa casa acéptica e onde tudo está perfeitamente arrumado. Estar em casa é um trabalho a tempo inteiro, não porque tenha de espanar o dia inteiro. Não tem nada a ver isso. Isso além de criar ressentimento, cria mulheres insuportáveis e sem nada de interessante para dar ou dizer.
Para ter uma casa perfeita pense o que é que as pessoas precisam de sentir numa casa para se sentirem verdadeiramente "em casa" e bem, fisica, emocional, espiritualmente. O que é que as pessoas verdadeiramente precisam de sentir para ser sempre tão bom estar nessa casa?
E depois entregue todo o seu potencial a isso.

E eu... aquilo caíu-me. Deu-me vontade de mandar uma carta á direcção.

"Mas essa sou eu!" Eu sou a pessoa que não quer passar o dia a espanar, mas quer estar disponível e fazer com que quem vive comigo entre nos meus espaços e sinta que tem aí todo o alimento físico, psiquico e espiritual, para se sentir bem, para crescer, e para querer sempre voltar! Essa sou eu!"


E ouvi um risinho em surdina das primeiras outorgâncias neste momento de síntese que o meu mapa das estrelas mostrava desde que respirei a primeira vez.
Até o Aracnídeo se agitou na teia quando lhe contei tudo isto. Espaço à surpresa em plena evidência... Ver mesmo antes de ter visto, mas só poder ver depois de ver...

aai... estas dioptrias que o cosmos insiste em não distribuir na terra... com tanto fornecedor desocupado, com tanta gente á procura de um nicho de mercado...
...
A minha aranha sabe...
Eu, acredito em magia. E acredito em mim. E nunca duvidei de que alguma coisa disto tudo havia de fazer sentido.

O que não me entra é ter de passar por este rasgo de clarividência por uma senhora gritante chamada Schlessinger!
...
Safa!

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