terça-feira

Não controlamos nada? Ou controlamos surpreendentemente muito?

Cá estou eu. As mudanças continuam... a não continuar propriamente.
O contrato começou em Julho, era o mês em que iríamos instalar-nos lá, eu e a minha família, vagando esta casa onde vivo agora para a arrendar.
Metade dos móveis continuam meio cheios, os sacos andam por aqui, pelos quartos e sala, e eu tive o prognóstico: Não posso fazer nada disto que tenho para fazer.

Sexta e sábado estava contente, finalmente começava a ver-se alguma coisa a acontecer. No contentamento talvez tenha perdido a noção do esforço razoável.. não sei, eu diria que foram apenas dias normais, mas o corpo deu sinal.
Domingo liguei para a saúde 24 e daí segui para o hospital de Sta Maria onde um fax me aguardava dizendo:
- Gravida de 23 semanas com dor permanente há 8 horas.

Ordens do médico:
- Uma semana calminha. Uma semana calminha é andar aqui por casa, ver televisão, cozinhar coisas simples sem ser de forno, não me dobrar, não pegar em coisas que pesem mais de 2 quilos e mesmo as mais leves nunca do chão, só de cima das mesas...

E eu com plantas no Montijo para regar, com coisas para tratar, com os sacos pela casa, com tanta coisa para despejar... Não posso fazer nada, porque não posso correr o risco idiota de ir lá outra vez daqui a uns dias encarar o olhar incrédulo do médico:
- "Então mas o que foi que eu lhe disse??!!"

Fui eu que me trouxe até aqui, a este momento de mudanças, de gravidez, e até mesmo de repouso forçado na medida em que exagarei.
E no entanto, como pode isto ser? Como é que pode suceder, de precisamente quando estas mudanças precisavam de acontecer, tudo parece contribuir activamente para que eu tenha de ficar aqui quieta, com o tempo a passar e as coisas com este grau de complexidade?

A minha mãe e a minha filha foram juntas de férias para a praia, não pude levar-lhes as malas nem levá-las ao comboio como sempre fiz e faria. Lá me despedi delas, carregadas como campistas, a minha mãe nervosa, a minha filha ansiosa, as duas prontas, lá foram.
A minha filha fez a mala sozinha, com 9 anos, preparou tudo para duas semanas de férias. Não faço a menor ideia do que vai naquela mala.
Eu estive deitada, sem conseguir andar nem estar de pé.
Agora estou muito melhor, não sinto qualquer impedimento físico, mas existe um impedimento de culpa e sentido de responsabilidade para com uma criaturinha que de vez enquando me chuta o estômago, a bexiga ou onde calhar, enroladinha, fetal e oxalá serena porque a mãe escolheu parar e esperar que tudo ande mesmo sem mim a fazer a minha parte.

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