terça-feira

Ter, coisas, património e outros pertences

Por circunstâncias diversas já mudei de casa uma série de vezes e a sensação é sempre a mesma: "De onde veio isto tudo??" Parece que se vive mergulhado num mundo de coisas, que funcionam, mas que não têm uso, porque os dias não me chegam para ter tanta coisa em movimento.

Invariavelmente dou imensa coisa, alguma deito fora, outras coisas não resisto a prolongar em eternas caixas que me acompanham como um rasto pesado de passado que apesar de tudo valorizo.

Quando penso nos meus dias, e no que realmente vivo e faço, eu preciso de espantosamente pouco a comparar com este oceano de tralha. Mesmo assim não deixo de pensar que no meu mínimo está o impensável máximo de 2/3 de população do mundo e esse sentimento também me pesa e culpabiliza.

Roupa, livros, objectos, fotografias, Cd's, papelada, (papelada então...) lençóis, toalhas, tapetes, latas de tinta, um velho televisor, o novo, cabos, malas, taças de vários tamanhos, panelas, faqueiros completos e incompletos...
Caramba...
Frascaria de casa de banho.
E eu só tenho um corpo, uma cara e um couro cabeludo.
Acontece sempre isto.

na casa nova vivi uns dias com a minha filha, para o que levei os "mínimos" e vivemos tão bem com quase nada.
Agora tenho de despejar esta casa, porque para a arrendar tem de estar vazias como as casas apetecem. Apetecia-me despejá-la para algum lugar que não a casa para onde vamos morar. Apetecia-me ter um tobogan inteligente que distribuisse o que tenho por quem o queira deixando-me a mim na paz de ter apenas o que realmente usamos, gostamos, precisamos e queremos.
Espaço corresponde a estes 4 critérios: uso, gosto, preciso e quero.

A noção de património, associado aos livros, por exemplo...
As contas, os cartões, a trapalhada dos bancos agiotas, e da minha necessidade deles, por ignorância e agora engaiolamento.
dívidas, papeladas e burocracias.
A minha cabeça tem algumas gavetas para chatices, e coisas de ter.
São as gavetas que andam mais cheias de indefiníveis excessos que eu nem consigo discriminar.

Depois tenho na cabeça um espaço de liberdade, feito de vontade de caber mais em mim, não para por nada, mas para ter espaço.
Esse espaço quero expandir, dentro e fora.
Sinto vontade de criar uma loja on line e por lá tudo o que tenho pelo preço do envio. É uma ideia que me assalta todo o santo dia. E se não fosse caro, era mesmo o que eu fazia: Agora!

Sendo assim, gosto de me sentir tão demasiado empanturrada de tralha, por se tornar óbvio o que fazer, urgente e mesmo agradável. Às vezes temos de ver de frente as misérias da nossa vida, para encontrarmos finalmente forças para o necessário.

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