sexta-feira

O foco e o zoom

Estava aqui a tentar encontrar palavras para dizer uma coisa que sinto sem palavras... e da qual nem sei bem como ter a certeza.
Vou falar no foco e no zoom como experiência pessoal.

Na minha experiência pessoal, o que foi mudando comigo e que mais me permitiu dar saltos em frente foi o sistema de zoom e focagem da minha percepção.

O zoom, permite-me aproximar para ver o detalhe, para me dedicar ao pequeno, às coisas pequeninas mas que fazem toda a diferença.
O mesmo zoom permite-me afastar e recolher uma visão panorâmica, aquilo a que os americanos chamam a big picture.


A focagem é um dispositivo que me aproxima e afasta do senso comum. Por oposição ao senso comum posso ganhar ou perder nitidez numa forma cristalina, fresca e única das quase realidades em que me vivo.

Nos meus piores momentos tinha o zoom na distância errada e o foco regulado pelo senso comum.
Nos meus melhores momentos tinha o zoom centrado no essêncial desse momento e o foco dava mais nitidez ao primeiro plano da minha vontade de ver verdades simples, e o senso comum sem nitidez como pano de fundo, suficientemente desfocado para não me importunar na minha viagem pessoal pelas imagens de mim mesma.

A maior parte das coisas que vivo tem um zoom e um foco certo, e não existe uma medida, uma forma de os regular que sirva para tudo em mim, por isso tenho de estar sempre a decidir qual o foco, qual o zoom, para poder dar resposta a cada coisa e estar á altura de cada momento, desafio e forma de estar em que me quero ver estar.

Há muitas situações que não posso resolver com o zoom centrado em mim. Tenho de afastar. E perceber que o que sinto é a minha parte de algo maior que diz respeito, por exemplo a toda a minha família e que é a esse nível que as respostas estão.
Noutras situações estou a tentar resolver o problema do mundo e tudo o que tinha de fazer era um zoom bem aproximado à maravilha mágica de fazer um belo chá.

Quando o zoom certo me ultrapassa, e a abordagem panorâmica me dilui em assuntos maiores que eu, sinto-me impotente, porque sei que não posso resolver os problemas do mundo quando sou apenas a célula pequena do pequeno bocadinho, do meu pequeníssimo bocado de mundo.

O que tenho verificado, é que tenho parcelas gigantes, não são as mais visíveis, nem são as que estão mais à superfície. Estar nesta forma de parcelas gigantes de mim exige uma lente especial. Uma lente subconsciente, simbólica, arquetípica, mágica, inocente, criativa e alegre.
Esta lente desfoca a aparente realidade, e auto-foca-se, auto-zooma-se e de repente podemos ver numa linguagem de amor simples e clareza infantil, um corpo santo, um espírito aberto; que nos torna enormes até na nossa tão pequenina pequenez.
Cada um encontra esta lente á sua maneira, mas todos temos este recurso disponível e à espera.

O objectivo é um dia não precisar de articular zooms e focos. Os nossos e os dos outros.
Encontrar a nossa dimensão de existência no nosso pertencer.
Quando pertencemos já somos a parte pequenina e a parte grande.
Já somos o nosso bocado de percepção do mundo de si mesmo.

Nesse observatório científico porque experimental da nossa mais silenciosa essência momentânea, podemos integrar tudo de tal forma que saúde, equilíbrio, alegria e tranquilidade estão na mão que estendo à mão que estendes com tudo o que nos magoou e tudo o que nos construiu, e com a lente formidável que encontrámos, desenhamos um mundo novo, onde todos podem receber de nós, o nosso melhor lado para sempre.
E com isso mudámos o mundo.
E era tudo uma questão de zoom e foco.

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