sábado

Acordar devagarinho

Esta noite dormi bem, e acordei calmamente com a Mimi a ser gato chato em cima de mim com aqueles ron-rons dela para me roubar mimos à força.
Acordei e ainda estava naquele "meio cá-meio lá" que ainda permite voltar ao sono profundo, mas que também já tem portas abertas para o começar do dia, levantar, calçar as chinelas...


Nesse momento, nesse bocadinho de momento, eu acordei e fiquei espantada. Nada!
A barriga lisa, sem dor, sem comichão, sem esticão, sem peso, sem dureza, sem movimentos, o peito sereno, as costas bem, o cóccis sem parecer pronto a estalar numa fractura definitiva e paralizante...
Foram nem chegou a minutos, acho.
Foi um momento assim.
A Mimi ali a ronronar pelo mimo mínimo obrigatório...


Depois, lá foi. Uma câimbra, um pontapé, as costas não rodavam, não podia mudar de posição a não ser agarrando a cabeça da cama para suportar o meu peso...
Ah! É mesmo verdade. Estou grávida de 31 semanas. E sim, a comichão no peito, a dor no umbigo...
O cenário do que tem sido.

Terça tenho consulta com a obstetra. Não sinto culpa da minha falta de coragem de aguentar tudo isto muito mais tempo. Nada na gravidez está "pensado" para ser por muito tempo. Cada dia parece um mês, e nove meses são demasiados dias, mesmo assim.
A vida é frágil, como a gravidez, como tudo o que é corpo em nós.
E eu não vou fazer de conta que tudo isto é eterno, e o meu corpo é eterno e eu vou aguentar eternamente esta situação.

A contagem decrescente está a contar sim. E vai contar a cada dia, menos um dia.

No meu não querer sofrer existe imenso amor. A vontade quase infantil de conhecer esta menina que rebola aqui dentro como uma golfinha apertadinha num oceano que se vai tornando pequeno demais.
A minha bexiga reclama por espaço.
E a minha vida também.
E é normal que assim seja.


Felizmente, as minhas filhas, têm uma mãe que também é pessoa.

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