quinta-feira

Isso foi apenas um sonho mau!

Um sonho mau é um momento em que voamos para uma história dolorosa, que sentimos como realidade, para depois acabarmos por descobrir que não estava a acontecer. Foi apenas um sonho mau.
Acordamos e estamos noutro lugar, com outras pessoas, ou com ninguém, mas o contexto é outro e em poucos minutos, com a luz acesa e algum movimento, podemos tirar de cima o peso da energia maligna do sonho mau, para voltarmos a mergulhar em novos sonhos, oxalá desta vez mais benignos.


Esta noite tive um sonho mau.
Acordei e o sonho não se dissipou.
Desci as escadas, comecei o dia e o sonho não se dissipou.
E mesmo agora.. ainda não consegui dissipá-lo.

Encontrei nalguns tijolinhos dos pés daquilo que me sinto ser, partes do meu sonho mau, em cima do que, todos os outros tijolinhos tinham sido colocados. Uma tibieza estrutural que se propagou pelas leis da física ao edifício e que deixou cada um dos meus passos no momento inclinado da Torre de Pizza.
Que aliás é um momento que parece ter sido assim desde sempre.
Tal como o meu.


No meu sonho mau apareceu a mesma cena de muitos sonhos maus, mas com outra cara.
De tantas vezes o sonho mau ter uma cara, eu achei que o problema era aquela cara.
Mas quando o sonho mau apareceu com outra cara, eu percebi que era mais fundo. O sonho mau não era um, não era uma pessoa, não era uma relação.
O sonho mau era um estado de coisas, uma herança de sempre, trazida sabe-se lá desde onde, e por quem, que provavelmente por muitos, pela dança de todos ao redor do nascimento de mais um na árvore da minha família.

As famílias trazem da raíz certas histórias.
Histórias com a mesma história em várias caras e a cada nova geração, sempre alguém segura a tocha e continua a corrida de estafetas.
Os alcóolicos das famílias, os poetas das famílias, os malucos das famílias, os trabalhadores das famílias, os queridos das famílias. Todas as gerações parecem trazer representantes de cada prumada dessa raíz cheia de histórias.

E eu acordei e pensei:
- ufa! Foi apenas um sonho mau!

mas não tinha sido.
Desci a escada, entrei na cozinha e fui fazer o café enquanto percebi que o sonho mau é mais antigo do que eu, e agora não sei como vou arrancá-lo da história dos meus ramos para que os meu frutos não tenham de sair sempre contaminados do veneno estúpido de uma raíz auto-fágica que nem sequer é minha.

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