sexta-feira

34 semanas


Estou... pesada.

Na semana passada, quinta feira, a bebé tinha 2, 326 quilos. Como é que eu sei isso? Mistérios das ecografias. Olham para um fémur e definem um peso...
Sinto-me como os pinguins, com um ovo que não pode caír na neve.
Hoje temos visitas.
Ontem apetecia-me chorar, estava tudo uma desordem e eu já preferia não ver ninguém até daqui a meio ano!
Sentia-me triste por fora e contente por dentro.
Deitei-me triste, mas fiquei com a mão a sentir os pontapés de uma bebé ausente de todos os meus problemas e presente em todo o meu milagre.
Acabei por sentir um sorriso em mim, não sei se cheguei a sorrir, mas posso ter sorrido, porque senti esse estado de espírito. Eram quase uma da manhã.
Foi uma dança gira de minúsculos pés e mãos que juntos cabiam na minha mão, a criar vultos móveis na minha barriga, a pontapear-me as costelas flutuantes e a obrigar-me a ir à casa de banho suponho que 4 vezes em 3 horas.

Preciso que isto acabe. Estou no limite das minhas forças e falta um mês. Ainda vou ganhar peso um mês. Essa ideia assusta-me.
Não é a gordura, ou a feiura. É o peso em si. O esforço dos meus tornozelos, o esforço que faço em levantar-me, o esforço que tudo, até as coisas mais simples acabam por envolver.

Quando a bebé se estica, estica a barriga, ficam os vasos sanguíneos apertados, falta-me o ar, o coração muda de ritmo e fico com a cara vermelha. Parece que me vai "dar uma coisa".
Algumas contrações aparecem para treinar, a bebé já virou há umas largas semanas e não voltou a pôr a cabeça para cima.
Agora já terá dificuldade em fazê-lo por falta de espaço.
Também ela vai ficando acanhada. Já não pode golfinhar como os golfinhos. Já está um bocado como às vezes sinto o cérebro no meu crânio: Apertado e confinado, a precisar de novos horizontes, mas sem saber saír de onde está, por ainda não ser o momento.


Agora, na verdade, é tudo sobre o momento certo.
Sobre a definição do momento certo.
O momento em que a vida vai decidir que esta vida quer iniciar um percurso de independência organísmica. Saír de um conforto uterino que se transforma num embaraço uterino, e poder passar a um colinho de braços e olhos, e tanta coisa que há por descobrir.
Mas só no momento certo.

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