segunda-feira

Ajudar em casa

Chamei-os à mesa da cozinha. Os dois cansados de um fim de semana de fazer imensas coisas.
Estávamos então os 4 ali presentes e eu podia sentir uma ligação entre todos nós que podia atravessar a mesa e o espaço que nos separava e manter-nos juntos no elo do cansaço, no elo de apesar de tudo estarmos ali uns para os outros.

Era preciso conversar e esta frase costuma assustar toda a gente. Quando queremos conversar não há problemas, mas quando "precisamos de conversar" já se sabe que o caldo entornou para algum lado e "cabeças rolarão".
Não aqui, onde em vez de "cabeças a rolar", gosto de ver cabeças em sintonia, corações em sintonia, e sem essa sintonia... não haveria nada para conversar.


O assunto era a ajuda.
Quando a minha barriga se foi tornando um claro extra, começou a tornar-se óbvio também, que eu precisaria de ajuda.
Precisamos de ajuda para aquilo que nos diz respeito, que habitualmente faríamos sozinhos, mas que por uma incapacidade qualquer, não está ao nosso alcance.

O que me pareceu importante deixar claro é que não preciso de ajuda para fazer aquilo que é para toda a gente, porque aí quem estava a ajudar era eu.
E quando eu não posso fazer coisas por todos e todos acabam a ter de as fazer, isso não significa que me estejam a ajudar, significa que estão a prescindir da minha ajuda e que estão a fazer as suas coisas.

Exemplos são as compras, o lavar da roupa, o estender da roupa, fazer a comida, lavar a loiça...
Todas estas coisas são para toda a gente.
Se eu as fizer eu também estou a ajudar? Ou estou simplesmente a fazer coisas normais.

É que depois, quando eu dizia:
- "Temos de fazer umas compras"
Todos faziam aquela expressão de exaspero, porque estão cansados, porque antes queriam fazer outra coisa, mas eu estou a pedir ajuda e é suposto ajudar...
Mas.. quando eu digo que temos de fazer compras, eu estou a disponibilizar-me para algo que todos temos de fazer, não é propriamente um favor.

Tudo isto parece óbvio.
Mas não foi nada óbvio.

E foi preciso conversar, porque como eu sou pouco de pedir ajudas e como eu própria tenho imenso esforço em fazer a minha parte, e como ninguém estava com muita vontade de fazer coisa nenhuma, isto estava a ficar uma casa daquelas das quais dá vontade de fugir e voltar uns meses depois com uma equipa de limpadores milagrosos.

Só que eu estou com uma enorme barriga, que endurece pelo esforço, o umbigo com uma hérnia que sai e doi com o esforço, estou com 70 quilos, estou cansada, tenho a bexiga apertada e tudo me custa imenso.
Eu preciso realmente de ajuda. Mas são as ajudas que me dizem respeito, que me custa imenso pedir, como:
- Apertar os atacadores dos sapatos
- Apanhar tudo o que está sempre a caír-me das mãos (o que é irritante)
- Subir as escadas para ir buscar coisas de que me esqueci...

Estas são as coisas para as quais preciso de ajuda.

Para ter a casa em ordem, o jantar na mesa, a roupa lavada e estendida, as compras feitas... para isso não preciso de ajuda. Mas se quiserem a minha ajuda eu posso ir..
Afinal, também quero contribuir com a minha parte.

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