terça-feira

De burro e de génio todos temos um pouco

Há alturas em que me sinto esperta. Sinto que até sei coisas, que até percebo.. O conceito que temos de nós é sempre relativo, por isso sentir-me esperta tem o seu quê de achar que sou espertalhona, de me ter em boa conta.
Outras vezes sinto-me bronca. Até gaguejo. Quero dizer as coisas que tinha pensado com eloquência e sai-me um raciocínio frouxo no qual nem eu acredito. Sucede-me sobretudo junto de quem me intimida. As minhas convicções tornam-se em hesitações e acabo por preferir ouvir atenta do que dizer o que de repente chamo patacoadas.

Saber, ser esperto, ter certezas e convicções; são fruto de uma sensação securizante que procuro e que serve para me sentir bem comigo, constante no que penso das coisas, para encontrar alguma coerência e conseguir encontrar sentido e gostar de mim.
Quase toda essa construção é muito frágil. A minha forma de ver as coisas já mudou muito, só não mudou a forma como me envolvo e reafirmo aquilo que faz parte do todo coerente que em cada momento tenho como o certo.


A minha relação com médicos e com a autoridade nunca foi muito linear. Eu respeito pessoas, independentemente do que representem. Sinto que a autoridade se conquista pela moral, pelo entendimento, pela capacidade demonstrada.
Um médico nabo, ou um polícia burgesso, ofende a classe, e ofende-me a mim. Um professor arbitrário ou obtuso, um patrão abjecto, abusivo ou sórdido... nada neles me impele ao respeito pelo respeito porque sim.
Posso respeitar a pessoa dentro dessa, o ser que quer ser o melhor que consegue embora naquele momento só consiga aquilo. Dentro existem outras dimensões que eu respeito a um nível que, ainda assim, não me impede de dizer o que penso, quando o que penso quer ser dito.

Menos quando me sinto bronca.
Menos quando as minhas convicções ficam esmagadas pelo facto de me sentir intimidada por uma qualquer insegurança baseada em várias possíveis razões para me sentir insegura.


Isto para dizer que às vezes na rebiteza, posso ser tola e mesquinha. Na humildade posso ser finalmente um pouco esperta. Na esperteza posso ser mesmo esperta, ou outras vezes posso ser a campeã das broncas. E no exacto momento de ser ou acontecer estas possibilidades... eu nunca consigo o discernimento e distanciamento suficientes para ver qual dos tipos de esperta/bronca estou a ser.

Tenho sempre de me consternar ou animar com essa evidência depois. Como num filme das férias de 89:
- "IIh, olha para a minha figura ali!!"

E é chato. Porque sería bom para mim conseguir primeiro ser humilde, depois não me deixar intimidar, depois aprender com os outros, depois partilhar o que aprendi, e voltar de novo ao humilde.
Mas raios se isto não é mesmo difícil de fazer!

1 comentário: