segunda-feira

Estava aqui com sonhos

Quando não podemos embelezar a nossa casa de fora, podemos embelezar a nossa casa de dentro, e "dentro" é um lugar de muitas formas de ser lugar.

A vida é um periodo especial da inexistência, em que temos a oportunidade de experimentar entre o nada e o nada, algumas coisas nas quais existe de tudo.

Estar entre acontecimentos é em si um acontecimento e eu estou entre acontecimentos, numa espécie de fila para saltar da prancha, como quando andava na natação, e tinha um medo enorme da prancha, mas também queria ser capaz de saltar.
Cada passinho, cada um que saltava à minha frente, era como estas semanas que passam uma a uma, e que eu vou aceitando com o peito meio oprimido e a ansiedade de que queria ter já saltado, para sentir que já estava saltado, e não era preciso saltar.

Neste caminhar vertiginoso e lento ao mesmo tempo, tenho o corpo preso à bola de aço dos prisioneiros, mas não o que guardo dentro.
"Dentro" pode ser o corpo.
Mas também pode ser além do corpo, além ou aquém, uma parte de ser pessoa que é intestina como um intestino, mas menos visceral e mais etérea.
Não sei como chame a esse dentro, mas é o "dentro" que em mais gente vejo descuidado.
É um dentro onde habitam quase todas as torturas para o que atribuímos ao "fora". E é um dentro onde estão quase todas as soluções para o que esperamos que cheguem soluções de fora.

Criar, e ser criativo, na realidade só na fase final inclui algo fora. Começa tudo por ser um processo do dentro em revolução, na brincadeira de existir sem grandes equações químicas e nem matemáticas.
Eu, estou cansada do fora. Não tenho como dar resposta exterior a tudo isto de que me cerquei como uma cancela de amor com ferrolho de escolha.
Mas tenho recursos aqui dentro, que se abrem como mundos novos a cada dia. E posso investir nesses agora.
Preciso de ajuda nisso. Mas provavelmente tenho de pedir essa ajuda a outras partes de mim.

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